Lidar com a doença é um exercício, e ninguém melhor que uma pessoa ligada ao desporto para o provar. David é técnico informático de dia, treinador de futsal de noite, e doente psoriático sempre. Ao contrário do que se poderia esperar de um desportista, David não procura esconder a doença, nem tão-pouco deixa que esta o limite.
Propenso a alergias e diagnosticado com asma, David lidou “desde pequeno com comichões na pele, feridas com regularidade…”. Foi, numa primeira fase, diagnosticado com uma dermatite de contacto, pelo médico de família: “Punha pomadas, que me ajudavam, mas não sentia grandes melhorias.” Só cerca de 10 anos depois, já em consulta de especialidade, foi finalmente diagnosticado com psoríase.
Ainda que tardio, o diagnóstico trouxe grandes melhorias, pelo acesso a tratamentos adequados à patologia: Com menos comichão e menos feridas, o caminho faz-se agora “por fases” refere David, sublinhando a importância da evolução científica neste campo.
Foi-me explicado que a psoríase tem a ver também com o nosso quotidiano, o nosso ritmo de vida, porque o sistema nervoso central influencia muito
A consciencialização de que a psoríase, ainda que sendo uma doença do sistema imunitário, tem influência e reage a fatores externos e emocionais fez com que David procurasse uma melhor qualidade de vida. Afirma que o facto de frequentar o ginásio fez com que tivesse melhorias significativas, e justifica: “Faz com que descarregue as minhas ansiedades, o meu stress do dia a dia, o que faz com que esteja mais calmo, mais relaxado, evitando situações de maior agressividade.”
O treinador de futsal considera a Associação Portuguesa de Psoríase (PSO Portugal) uma das ferramentas mais úteis para os doentes, por disponibilizar informação atualizada sobre a doença, as causas, os tratamentos e as investigações, bem como a participação de diversos especialistas na área.
Não façam logo juízos de valor
Ao longo dos anos, David cruzou-se com algumas situações em que a falta de informação e o preconceito foram inimigos da empatia. No ginásio, já foram denunciar a sua presença à direção, por pensarem que estava num sítio público com uma doença contagiosa; numa grande superfície onde já trabalhou, um cliente fez queixa ao supervisor. Para o técnico de informática, estas situações ocorrem muito por “falta de informação”. A solução? “Se têm dúvidas, perguntem à própria pessoa.” Aliás, a preocupação de David está em informar, e muitas vezes parte dele a iniciativa de explicar a patologia, o caráter autoimune e, sobretudo, o facto de não ser uma doença contagiosa: “99,9% das vezes a situação resolve-se, as pessoas são compreensivas e até procuram saber mais.”
O conhecimento sobre a doença já o levou, inclusive, a ajudar outros pacientes não diagnosticados, nomeadamente como treinador de futsal. A situação foi útil não apenas para a criança, que encontrou um diagnóstico, como para eliminar à partida o estigma que pudesse surgir na equipa.
Ainda assim, o treinador ressalva a importância de um diagnóstico sempre feito por um dermatologista: “Não tomem os medicamentos nem ponham as pomadas só porque o amigo, que também tem, as usa.” É fundamental, reitera, que haja um acompanhamento especializado permanente, para se irem acompanhando as causas, mas também os resultados dos tratamentos: “É essencial para terem uma psoríase controlada e uma vida com muito mais qualidade.”
Não há mal nenhum em ter psoríase
O espírito positivo é típico de um treinador de futsal, sempre com a crença na vitória e no bom desempenho, mas o positivismo de David vai além disso. Perguntámos-lhe, em jeito de remate, se a psoríase mudou a sua vida, e a resposta foi o golo da vitória: “A psoríase, desde que eu sei que é psoríase, mudou a minha vida, mas em alguns aspetos até a melhorou.”
Posso ter um bocadinho de limitações, mas nada que não me deixe ser feliz
Agradecimento: Departamento de Futsal do CRC Quinta dos Lombos